domingo, 5 de setembro de 2010

Providência


As andorinhas,
Ziguezaguendo apressadas,
Dorso azulzinho,
(À toa à toa)
Despejando ácaro vermelho e pulgão
(No fim do inverno,
É que lá fora dizem que fazem é a primavera.)

Nos girassóis da janela
Verdinhos,
Cheios de seiva,
Os ácaros já teciam suas teias.

Uma joaninha providencial
Amarelinha
Jazia parada no vidro da janela
(do lado de fora).
Tomei-a com a mão
(Por que não comeriam ácaros
Já que comem pulgão?)

A joaninha
Nem andou pelo girassol.
Voou desprezando ácaro e pulgão.
Era almoço de andorinha.

(Os girassóis,
Tadinhos,
Folhas enferrujadas,
Morreram ainda em botão.)

domingo, 29 de agosto de 2010

Cantiguinha de Maldizer

Aqui neste nosso abrigo,

Quero beijar-te o ouvido

Ser apenas teu amigo!


Cá por debaixo dos panos

Por muitos e muitos anos

Ser apenas teu amigo!


Quero beijar-te o ouvido,

Ai! Que há pêlos compridos!

Ser a penas teu amigo!


Por muitos e muitos anos,

Tal como dois puritanos.

Ser a penas teu amigo!


Ai! Que há pêlos compridos,

E sujeira nesse umbigo!

Ser a penas teu amigo!


Tal como dois puritanos,

Abre um buraco no pano.

Ser a penas teu amigo!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Nine (2009) / O Lobisomem (The Wolfman - 2010)

Conferi as reimaginações de dois clássicos esta semana: A primeira, Nine de Rob Marshall (do oscarizado Chicago), adaptação de um musical baseado na obra-prima 8 ½ (1963) de Federico Fellini; A segunda, O Lobisomem (The Wolfman), remake do filme homônimo de 1941 da Universal Studios.

Vamos ao pedigree do primeiro. Nine conta com nada menos que cinco atrizes ganhadoras do Oscar (Judi Dench, Nicole Kidman, Marion Cotillard, Penélope Cruz, Sophia Loren), além de Daniel Day-Lewis (2 Oscar), Kate Hudson (1 indicação ao Oscar por “Quase Famosos”), Stacy Ferguson (a Fergie do grupo Black Eyed Peas e nenhuma indicação ao Oscar), e o diretor Rob Marshall (indicado ao Oscar por Chicago). Adaptado do musical ganhador de 5 Tony (o Oscar do Teatro), que por fim foi baseado no filme de Fellini que levou 5 indicações e, sim, 2 Oscar (incluindo o de Melhor Filme Estrangeiro em 1964). Não que o Oscar seja em si uma prova definitiva de que um filme seja o melhor (ex., Shakespeare Apaixonado... ou Dança com Lobos ganhando de Os Bons Companheiros... enfim, uma discussão para outra hora), mas já indica à primeira vista alguns pontos:

1. A crença da indústria hollywoodiana (aqui personalizada pelos irmãos Weinstein) de que com tantas carinhas conhecidas e vencedoras de Oscar o filme obviamente geraria uma boa bilheteria tal como Chicago (algo não muito bem sucedido até agora);

2. O filme repetiria não só o sucesso financeiro de Chicago angariando diversos prêmios (o que justifica repetirem Rob Marshall na direção);

3. Provavelmente o empenho pessoal de Marshall em ganhar um Oscar.

E todo esse empenho e múltiplos talentos para gerar um filme... medíocre, digamos. O filme retoma a história do original, onde o aclamado diretor Guido Contini passa por um bloqueio (no original Guido Anselmi), onde não consegue lidar com a pressão dos produtores em rodar um filme novo, não tendo sequer um roteiro e já tendo construído um cenário megalomaníaco que provavelmente não servirá para nada. Além disso, Guido tem que lidar com as influências das diferentes mulheres de sua vida (a esposa, a amante, a diva, a agente, a mãe, a jornalista-fã, a prostituta que trouxe o despertar sexual) e retomar o controle.


E Nine conta essa história entre canções (que se passam na cabeça do diretor, ou na de outros personagens) que não só são na maior parte esquecíveis, como possuem letras ruins ou piegas (ex.“Some men catch fish, some men tie flies, some earn their living baking bread. My husband, he goes a little crazy making movies instead”; “Alguns homens pegam peixes, outros amarram a isca, alguns ganham a vida fazendo pão. Meu marido, entretanto, fica um pouco maluco, fazendo filmes”, canta a triste esposa Marion Cotillard). E novamente Rob Marshall demonstra pouca criatividade cinematográfica (aparentemente não assistiu Moulin Rouge) para criar números musicais interessantes, sendo que a maior parte, se não ocorre em um palco de teatro, parece ocorrer em um (seria talvez mais fácil filmar a peça?). Adiciono o fato de Marshall ter conseguido deixar Penélope Cruz (que ainda soa espanhola mesmo arriscando no sotaque italiano) pavorosa, e como ela é a amante de Guido creio não ter sido intencional, chegando a alguns closes em seu número que parecem ter sido tirados de um filme adulto caseiro (talvez a indicação ao Oscar seja por consolação).

Finalmente, Daniel Day-Lewis parece não se divertir no papel (a ausência da canalhice simpática do personagem original de Marcello Mastroianni faz falta) e com pouco tempo para atuar, visto que não pode fazer muito no intervalo entre as músicas. Por sinal, de todo o elenco estelar as únicas com um tempo um pouco maior de atuação são Judi Dench, que parece se divertir com seu papel (e com o melhor número musical, apesar de não ter gostado da música e ser novamente em um hm... teatro), Marion Cotillard e Penélope Cruz (sem gerar justificativas para sua indicação).

O sentimento que permaneceu durante todo o filme foi vergonha alheia, a começar pela abertura extravagante onde Marshall apresenta cada uma de suas atrizes com uma entrada triunfante (e apresenta de fato as atrizes, não as personagens), terminando obviamente por Sophia Loren (a mãe) que ao levantar os braços e sorrir me fez encolher na poltrona esperando um relâmpago e o letreiro de “A Noiva de Frankenstein” (um marco do que o tempo e as intervenções cirúrgicas podem fazer). Em suma, caso tivessem assumido uma postura mais bem-humorada e menos espetacular, teríamos um filme que no mínimo seria divertido.

Por falar em Frankenstein, conferi o remake de “O Lobisomem” (um dos monstros clássicos da Universal, junto com Drácula e o monstro de Frankenstein). Na história, Lawrence Talbot (Benicio del Toro) retorna à mansão Talbot após longa ausência devido a morte brutal de seu irmão, logo é atacado por uma fera, e terá que se preocupar com as fases da Lua um pouco mais do que qual a época certa para cortar os cabelos.


O sentimento desta vez foi tédio, desde os sucessivos sustos seguidos de um acorde alto, até a atuação mecânica de Anthony Hopkins. A história é simples, mas o importante é como contá-la, e a edição parece simplesmente ignorar o silêncio e os prolongamentos necessários para se contar uma história de terror e criar tensão. Isso gera uma história contada às pressas que não atinge seu ápice quando o filme pensa que deveria atingir. Outro sério problema é que os cenários e a produção de arte são fantásticos (belíssima a Londres vitoriana vista em uma perseguição), porém desperdiçados em closes nos rostos dos atores na maior parte do tempo (que infelizmente não estão dizendo muita coisa com o rosto). Ainda, parece que o filme decide abandonar quaisquer lógicas de tempo e espaço no último ato (alguém pode me explicar como um homem a pé, pessoas em um trem, e homens à cavalo chegam aparentemente ao mesmo tempo, no mesmo lugar). Há uma cena, no entanto, que passa em uma reunião de psiquiatras que gera certa tensão e mostra que o filme poderia ter sido muito melhor (além de Hugo Weaving, o Sr. Smith de Matrix, que consegue divertir com seu pouco tempo de tela).

Após o fim do filme, a péssima edição me soava como intervenção de produtores (Mais ação! Corta esse homem andando no mato!). Li que a produção foi conturbada e houve troca de diretores e Joe Johnston disse ter se focado no relacionamento do casal Del Toro e Emily Blunt (que pareceu superficial e sem-sal). Pena. Poderia ter se focado em fazer um filme de terror que de fato assustasse.

Ao sair de Nine pensei que se não conhecesse o filme de Fellini não teria vontade alguma de vê-lo, não vou cometer essa bobagem e vou conferir “O Lobisomem” de 1941, quem sabe se não for um clássico pelo menos serve para esquecer esta versão...

P.S. Tentei, tentei e tentei mais um pouco colocar fotos no meio do texto, mas não sei o que passou... depois tento editar mais uma vez :(

feito :)

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Poema-Retrato 3


Abril

À obliquidade do Sol
Sombras diagonais
De amor enfrutecido
Tranquilo amarelo-crepúsculo
Silêncio retribuído
Oblivion
Ocaso


P.S. Começo a postar meio tarde nesse ano. Na verdade, não consigo escrever nada quando estou doente ou com ócio demais. E esse ano começou bem, dia 30 estreei no grupo dos que já sofreram cólicas renais e essa semana peguei uma virose, alguma benzedeira por aí??? Segue um poema velho então que me faz lembrar o quanto eu não gosto do calor gosmento do verão, principalmente sem uma praia por perto...